Esses dias encontrei uma menina com um semblante triste e resolvi me aproximar. Perguntei:
- Oi, meu nome é Carmen! Você está triste?
Ela respondeu:
- Não sinto alegria.
Eu falei:
- Mas você é uma menina tão bonita, com saúde, tem sua família, tem sua casa. Além disso, é tão admirada, cercada de pessoas que te querem bem. Por que se sente triste?
- Eu não sei. Não consigo encontrar-me comigo mesma. Não sei o que quero, o que faz me sentir triste, o que preciso, não sei nem se me conheço. Às vezes tenho vontade de chorar e nem sei porque. Então, se você me pergunta se estou triste, lhe respondo que sim, mas não sei explicar o porquê.
- Se quiser minha ajuda...
- Como você poderia me ajudar? Por acaso você se conhece, sabe se pode realmente me auxiliar?
Eu não soube responder àquela pergunta...mas eu estava com boa vontade...queria poder dar-lhe a mão e tirá-la daquele instante adverso.
- Você tem razão. – Eu disse. Não tenho certeza se me conheço tão bem, a ponto de poder ajudar alguém. Mas posso ouvi-la. Estarei por perto se quiser conversar. Acho que posso te dar esse pouco de mim mesma. Minha atenção.
- Preciso de um pouco de atenção mesmo. Um pouco de carinho. Não sei se tenho carinho nem por mim mesma. Não sei se estou disposta a conversar com meu próprio eu ou com você. Já lhe disse mais do que pensei que pudesse. Sinto solidão, mas não tenho vontade de estar com alguém. Quero estar sempre só. Estou a procura de algo que nada, nem ninguém pode me dar. Já estive em muitos lugares, já conversei com muitas pessoas, mas existe um vazio insistente dentro de mim. Um vão, um vácuo que nunca se preenche. Então resolvi observar esse nada que dominou meu ser.
- Não sei se a entendo, mas sei que não temos o direito de julgar ninguém. Cada um de nós, tem seus limites e qualidades. De qualquer forma, saiba que percebi sua tristeza, mesmo parecendo estar cercada de felicidade. Posso não ter respostas para suas aflições, mas tens minha solidariedade e companhia, se precisar e, claro, se assim o desejar.
Então, me despedi e fui embora. Sem compreender aquela tristeza inexplicável e sem conseguir responder aquela pergunta: Você se conhece?
(Carmen Eugenio)