27 de abril de 2021

Sobre Vencer o Mundo

 Muitas vezes,

Não é sobre vencer adversidades.
Não é sobre ter sorte,
Dinheiro ou beleza.

Muitas vezes,
É sobre vencer a si mesmo.

Vencer medos,
desconfianças,
manias,
curar as próprias chagas.

Todos nós temos cicatrizes,
não somos os únicos,
nem somos tão especiais por isso
e o mundo, quase sempre,
não nos tratará
de forma melhor
por essa razão.
A lamentação, cega.

Abrir os braços e agradecer,
parar de esperar reconhecimento,
congratular os próprios méritos
e tratar-se com gentileza,
mostra a grandeza do ser humano
que se é,
a alguém incrível:
nós mesmos.

E tudo começa a mudar.
A chave é de dentro
Para fora.
O mundo começa
por nós.


 

 

 

 

 

 

25 de abril de 2021

Mãe, Plenitude Solar

Ela sorria

e inspirava pessoas.

Aos domingos

Tão solar,

E plena de gestos,

cantava

a música que gostava.

 

Ela tinha alegria

Cheia de vida

e amava,

a família

e seu canteiro de azaleias,

que um perfume exalava.

 

Ela era cheia de sonhos,

ela era forte

e levava esperança

aos mais carentes.

Ela era minha mãe

Em seu coração:

muito amor.


                                               Flória Britez de Eugenio

 

 

 

 

 

Beleza Rara


Ela me ligou na hora do almoço e pediu que a levasse ao médico.

Eu lhe disse que estaria trabalhando, mas deixaria meu carro com ela.

Então passei em sua casa e ela me deixou no trabalho. Uma hora depois, um amigo me ligou e disse: encontrei sua mãe e ela estava com dificuldade para dirigir.

Fiquei muito preocupada e levei-a ao médico que a examinou e pediu uma tomografia da cabeça. Ele disse que poderia ser um AVC, acidente vascular cerebral e por essa razão, ela estava com os movimentos reduzidos do lado esquerdo. Fiquei bem assustada. Minha mãe? Mas a mamãe é tão ativa, tão cheia de vida, que estranho acontecer isso. Mas, de qualquer forma, vamos fazer logo o exame e começar o tratamento indicado.

As virtudes que sempre reconheci em minha mãe, foram sua força e coragem em enfrentar o desconhecido, as adversidades. Ela não tinha medo de nada.

Certa vez, meu pai quis passar o Ano Novo em uma fazenda. Mamãe não gostou da ideia, preferia a festa no clube da cidade. Mais perto e mais animado. Mas ele a convenceu e lá fomos nós. Papai tinha uma caminhonete com capota e arrumaram um colchãozinho para acomodar os três filhos na carroceria, durante a viagem. Naquele tempo, podia. Saímos depois do almoço para a tal fazenda. No entardecer, ainda estávamos na estrada. A ideia era chegar ainda de dia na fazenda. Era estrada de terra, não tinha iluminação e meu pai estava indo pela primeira vez para aquele lugar.  Dormimos. De repente, acordamos e a caminhonete estava atolada em um arado. Minha mãe já estava preocupada, meu pai também. Como sairíamos dali? No meio do nada, na escuridão. Mamãe colocou os três filhos na cabine, por causa dos morcegos. Ficamos os cinco, esperando sei lá o quê, num breu sem fim. Eu tinha onze anos e nunca havia sentido tanto medo na vida. Pensei que iríamos morrer de frio, ou de fome, ou comidos por uma onça. Cheguei a pensar na brevidade da vida, talvez tenha sido a primeira vez que fiquei em reflexão. Por que viemos, meu Deus? Por que estamos aqui? Por que aconteceu isso? Por muitas horas eu me senti em um filme de terror, com medo de algo que nem imaginava. Mas meus pais estavam ali e nos transmitiam segurança. Eu confiava em Deus. Eu confiava na força da minha mãe. Eu confiava nos meus pais. E dormimos ali, atolados no arado, em um ano novo pavoroso, que parecia não ter fim. Quando amanheceu o dia, apareceu um senhor que prestou socorro e nos tirou daquele lugar inóspito. Era o fim do suplício. Sobrevivemos, intactos.

Eu lembrei dessa história, quando fui buscar o resultado do exame no laboratório. Eu imaginava que seria um AVC pelo diagnóstico prévio e já estava me preparando, para conviver com essa nova realidade e ajudar minha mãe.

Estava, com o resultado do exame em mãos, a caminho do hospital, onde a mamãe foi internada em razão de forte tontura. Resolvi parar no posto de gasolina para abastecer. No rádio, tocava uma música linda chamada Beleza Rara. Enquanto o frentista abastecia, abri o envelope. Observei o exame. No lado direito do cérebro, uma imagem circular, grande e de cor laranja. Eu sabia que aquilo era imagem de um tumor enorme. Fiquei imóvel, em estado de choque. Minha amada mãe, de Beleza Rara, estava com algo grave.

No hospital, com meu pai e meus irmãos, ouvimos o parecer do médico: “Ela tem um glioblastoma de quarto grau. A estimativa de sobrevida é de três meses. Não adianta nem fazer cirurgia.”

Ela quis fazer a cirurgia e teve uma sobrevida de oito meses.

Antes de entrar em coma, ela me chamou em sua casa, para me contar uma história. A última história que me contaria. Vi seu sorriso pela última vez.

Mamãe partiu no mês de maio, depois de comemorarmos o dia da mãe.

E foram tantas comemorações. Como ela gostava de festas. Como tinha alegria.

Obrigada mãe por tudo que me ensinou: amar, lutar pelos sonhos e ideais, agir, não se abalar com os obstáculos pois são justamente eles que nos tornam mais fortes, reconhecer os erros, pedir desculpas, dizer obrigada, pedir 'por favor'. E outros valores indeléveis. Seu nome: Coragem.

Nunca te esquecerei, porque sou parte de você. 

Muito amor e gratidão eterna.



 

 

Ame-se Um Tanto Assim

Logo cedo,

em frente à estrada,

seguindo o trecho,

no cerne de capilaridade.

Cortando a cana,

bebendo seu caldo,

ou estrilando senhas e diapasões

pelas guaviras dos cerrados.

Ame-se

Um tanto assim.


Mesmo enfrentando

horrores e serpentes,

elegante sobrevivente,

do espanto e da discórdia.

Renuncie à catarse distópica,

num preâmbulo qualquer,

em epifania de querubim.

 

 

2 de abril de 2021

Na Manhã de Segunda-Feira

 

Na manhã de segunda-feira,

tecem-se os planos,

rogam-se aos anjos

proteção para semana inteira.

 

Tem trânsito impaciente

e pedestre apressado,

a esperança é espairada

com muita fé por todo lado.

 

O carro que se adianta,

o estudante com dever na mão,

o trabalhador de passos largos

 e o ciclista na contramão.

 

Tem ambulante na calçada

Com muita mercadoria

E a senhora oferece ao mendigo,

todo o troco da padaria.

 

O executivo tem na agenda

Pausa e café para despertar o dia.

Tempo de trabalho abençoado.

Seja bendita a semana se inicia.



 

1 de abril de 2021

Crepúsculos de Outono

 

Fique à vontade.

Escolha uma porta

ou qualquer fenestra

e trave dialética com a natureza.

 

Crepúsculo de Outono

é uma carta que diz: 

desfaça-se das folhas secas

e descame sua epiderme,

ainda que à revelia.

 

Tal fulgor

De inebriante cor laranja,

Rasga frações introspectas,

Com conceitos exilados

valores diversos,

indagações e possibilidades.

Afirma mutações,

reconhece
e alcança dons.

Tange capacidades.

 

Essa imersão em seu próprio mundo,

legitima reflexão e

autoconhecimento.
Reorganiza

pessoas,

coisas, 

e despe dileção

por sua verdadeira,

única

e irretocável

essência.



A Paixão do Salvador

Em seus passos,

a dolorosa aflição

do pérfido martírio.

O fardo extremo da cruz,

castigava seu

combalido dorso

por pisaduras sangrentas.

A coroa de espinhos,

guardava o desidério

de lacerar sua carne.

 

Em sua face,

As lágrimas escorriam

num torpor retorcido

ante o soturno,

iminente

e pérfido epílogo.

Ele pereceu,

levando consigo

o lúgubre magma

da transgressão humana.

E foi assim,

pela paixão de Cristo

e seu infinito amor,

que fomos sarados.