Muitas vezes,
...e nos infinitos das flores e em cada canto deste mundo, passo a compreender melhor as cores que inundam meu abrigo, que enfeitam as esquinas e toda consagração.
Muitas vezes,
Ela sorria
e inspirava pessoas.
Aos domingos
Tão solar,
E plena de gestos,
cantava
a música que gostava.
Ela tinha alegria
Cheia de vida
e amava,
a família
e seu canteiro de azaleias,
que um perfume exalava.
Ela era cheia de sonhos,
ela era forte
e levava esperança
aos mais carentes.
Ela era minha mãe
Em seu coração:
muito amor.
Flória Britez de Eugenio
Ela me ligou na hora do almoço e pediu
que a levasse ao médico.
Eu lhe disse que estaria trabalhando,
mas deixaria meu carro com ela.
Então passei em sua casa e ela me
deixou no trabalho. Uma hora depois, um amigo me ligou e disse: encontrei sua
mãe e ela estava com dificuldade para dirigir.
Fiquei muito preocupada e levei-a ao
médico que a examinou e pediu uma tomografia da cabeça. Ele disse que poderia
ser um AVC, acidente vascular cerebral e por essa razão, ela estava com os
movimentos reduzidos do lado esquerdo. Fiquei bem assustada. Minha mãe? Mas a
mamãe é tão ativa, tão cheia de vida, que estranho acontecer isso. Mas, de
qualquer forma, vamos fazer logo o exame e começar o tratamento indicado.
As virtudes que sempre reconheci em
minha mãe, foram sua força e coragem em enfrentar o desconhecido, as
adversidades. Ela não tinha medo de nada.
Certa vez, meu pai quis passar o Ano
Novo em uma fazenda. Mamãe não gostou da ideia, preferia a festa no clube da
cidade. Mais perto e mais animado. Mas ele a convenceu e lá fomos nós. Papai
tinha uma caminhonete com capota e arrumaram um colchãozinho para acomodar os três
filhos na carroceria, durante a viagem. Naquele tempo, podia. Saímos depois do
almoço para a tal fazenda. No entardecer, ainda estávamos na estrada. A ideia
era chegar ainda de dia na fazenda. Era estrada de terra, não tinha iluminação
e meu pai estava indo pela primeira vez para aquele lugar. Dormimos. De repente, acordamos e a
caminhonete estava atolada em um arado. Minha mãe já estava preocupada, meu pai
também. Como sairíamos dali? No meio do nada, na escuridão. Mamãe colocou os
três filhos na cabine, por causa dos morcegos. Ficamos os cinco, esperando sei
lá o quê, num breu sem fim. Eu tinha onze anos e nunca havia sentido tanto medo
na vida. Pensei que iríamos morrer de frio, ou de fome, ou comidos por uma
onça. Cheguei a pensar na brevidade da vida, talvez tenha sido a primeira vez
que fiquei em reflexão. Por que viemos, meu Deus? Por que estamos aqui? Por que
aconteceu isso? Por muitas horas eu me senti em um filme de terror, com medo de
algo que nem imaginava. Mas meus pais estavam ali e nos transmitiam segurança. Eu
confiava em Deus. Eu confiava na força da minha mãe. Eu confiava nos meus pais.
E dormimos ali, atolados no arado, em um ano novo pavoroso, que parecia não ter
fim. Quando amanheceu o dia, apareceu um senhor que prestou socorro e nos tirou
daquele lugar inóspito. Era o fim do suplício. Sobrevivemos, intactos.
Eu lembrei dessa história, quando fui buscar
o resultado do exame no laboratório. Eu imaginava que seria um AVC pelo
diagnóstico prévio e já estava me preparando, para conviver com essa nova
realidade e ajudar minha mãe.
Estava, com o resultado do exame em mãos, a caminho do hospital, onde a
mamãe foi internada em razão de forte tontura. Resolvi parar no posto de
gasolina para abastecer. No rádio, tocava uma música linda chamada Beleza Rara.
Enquanto o frentista abastecia, abri o envelope. Observei o exame. No lado
direito do cérebro, uma imagem circular, grande e de cor laranja. Eu sabia que
aquilo era imagem de um tumor enorme. Fiquei imóvel, em estado de choque. Minha
amada mãe, de Beleza Rara, estava com algo grave.
No hospital, com meu pai e meus
irmãos, ouvimos o parecer do médico: “Ela tem um glioblastoma de quarto grau. A
estimativa de sobrevida é de três meses. Não adianta nem fazer cirurgia.”
Ela quis fazer a cirurgia e teve uma
sobrevida de oito meses.
Antes de entrar em coma, ela me chamou
em sua casa, para me contar uma história. A última história que me contaria. Vi
seu sorriso pela última vez.
Mamãe partiu no mês de maio, depois de
comemorarmos o dia da mãe.
E foram tantas comemorações. Como ela
gostava de festas. Como tinha alegria.
Obrigada mãe por tudo que me ensinou: amar, lutar pelos sonhos e ideais, agir, não se abalar com os obstáculos pois são justamente eles que nos tornam mais fortes, reconhecer os erros, pedir desculpas, dizer obrigada, pedir 'por favor'. E outros valores indeléveis. Seu nome: Coragem.
Nunca te esquecerei, porque sou parte de você.
Muito amor e gratidão eterna.
Logo cedo,
em frente à estrada,
seguindo o trecho,
no cerne de capilaridade.
Cortando a cana,
bebendo seu caldo,
ou estrilando senhas e diapasões
pelas guaviras dos cerrados.
Ame-se
Um tanto assim.
Mesmo enfrentando
horrores e serpentes,
elegante sobrevivente,
do espanto e da discórdia.
Renuncie à catarse distópica,
num preâmbulo qualquer,
em epifania de querubim.
Na manhã de segunda-feira,
tecem-se os planos,
rogam-se aos anjos
proteção para semana inteira.
Tem trânsito impaciente
e pedestre apressado,
a esperança é espairada
com muita fé por todo lado.
O carro que se adianta,
o estudante com dever na mão,
o trabalhador de passos largos
e o ciclista na
contramão.
Tem ambulante na calçada
Com muita mercadoria
E a senhora oferece ao mendigo,
todo o troco da padaria.
O executivo tem na agenda
Pausa e café para despertar o dia.
Tempo de trabalho abençoado.
Seja bendita a semana se inicia.
Fique à vontade.
Escolha uma porta
ou qualquer fenestra
e trave dialética com a natureza.
Crepúsculo de Outono
é uma
carta que diz:
desfaça-se das
folhas secas
e descame sua epiderme,
ainda que à revelia.
Tal fulgor
De inebriante cor
laranja,
Rasga frações
introspectas,
Com conceitos
exilados
valores
diversos,
indagações e possibilidades.
Afirma mutações,
reconhece
e alcança dons.
Tange capacidades.
Essa imersão
em seu próprio mundo,
legitima reflexão
e
autoconhecimento.
Reorganiza
pessoas,
coisas,
e despe
dileção
por sua
verdadeira,
única
e irretocável
essência.
Em seus passos,
a dolorosa aflição
do pérfido martírio.
O fardo extremo da cruz,
castigava seu
combalido dorso
por pisaduras sangrentas.
A coroa de espinhos,
guardava o desidério
de lacerar sua carne.
Em sua face,
As lágrimas escorriam
num torpor retorcido
ante o soturno,
iminente
e pérfido epílogo.
Ele pereceu,
levando consigo
o lúgubre magma
da transgressão humana.
E foi assim,
pela paixão de Cristo
e seu infinito amor,
que fomos sarados.